Aos 16, contraiu o vírus HIV do namorado, numa época em que o vírus era  tão misterioso quanto as relações afetivas que ela estava começando a  construir em plena adolescência. Valéria não teve tempo de ganhar o  mundo, planejar seu futuro ou delinear sua vida como qualquer  adolescente faz e faria naturalmente. Aos 18 anos estava cuidando  exclusivamente de sua sobrevivência, de uma vida que dependeria de novas  experiências farmacêuticas e médicas. Aos 23 anos, mais madura e  consciente de sua própria condição de portadora do HIV, decidiu tornar  pública a sua história e escreveu seu primeiro livro, “Depois daquela  viagem”, onde narrou a sua trajetória e luta contra a doença. “Depois  daquela viagem” já vendeu cerca de 140 mil exemplares e foi traduzido  para vários idiomas. 
Valéria se fortaleceu, mudou, e mudou também a história de muita gente  com a sua própria história. Nos últimos anos, tornou-se referência em  assuntos como prevenção da AIDS e sexualidade na adolescência,  percorrendo escolas públicas e particulares do Brasil todo para  ministrar palestras aos jovens, alertando e informando sobre a AIDS,  sobre os relacionamentos sexuais e afetivos, incentivando e realizando  assim um trabalho educativo. Valéria mantém uma coluna na revista Atrevida, chamada Papo de Garota,  onde conversa com meninas, fala de assuntos básicos e fundamentais que  percorrem a vida e a cabeça das adolescentes e que muitas vezes as  deixam aflitas: a família, o sexo, o namoro, a separação dos pais, o  ginecologista, a turma da escola, enfim, os relacionamentos e as  descobertas que povoam essa fase de mudanças e reformas internas.
Ela, mais que ninguém, poderia falar e ser ouvida sobre os riscos, a  prevenção e o sentido da vida para esses jovens e sabe que, além de  informar os adolescentes, é preciso utilizar uma linguagem clara, direta  e coloquial, que faça parte do universo adolescente.  
 A história de Valéria revela uma incrível dignidade, mas sobretudo um  alerta. "Foi burrice transar sem camisinha", declarou à jornalista  Eliane Trindade, em entrevista publicada na revista Isto É. No livro,  com ironia, depõe o que sabia sobre sexo aos 15 anos: sua mãe lhe havia  lido o livro De onde vêm os bebês, estudara nas aulas de Ciências o  espermatozóide, o óvulo, a vagina e o pênis, assistira na televisão  cenas românticas e alguns filmes nacionais mais picantes. Ao transar com  o primeiro namorado, à bordo de um navio, no Natal de 1986, ao reclamar  pela camisinha, recebeu a resposta: "camisinha é coisa de ****. Você  não é, não precisa". Este namorado, usuário de drogas e desequilibrado -  costumava espancá-la - já morreu, de Aids. 
Valéria não é uma moça pobre, jamais morou na periferia. Estudou em boas  escolas, seu pai é empresário e sua mãe relações publicas. É uma típica  jovem de classe média. Teve razoável acesso à informação e à cultura.  Mas não escapou do preconceito, da ignorância e da proibição tácita  quando o assunto é sexualidade. Valéria é uma vítima da repressão sexual  travestida de um conjunto de tabus que se disfarçam atrás de valores  morais ambíguos. 
 
